O olfato não é meu sentido mais apurado. Jamais foi. Aliás, abstraio eflúvios de uma forma irritante. São raras às vezes em que consigo perceber fragrâncias nas pessoas, sobretudo nos garotos com quem fiquei.
Incrível... Parece que minha concentração olfativa se dispersa e essa informação deixa de ser armazenada pelos neurônios. O que gera grande frustração à minha irmã que sempre quer saber se as pessoas são, ou não, cheirosas.
Em compensação, tratando-se de miasmas (fedor), aí sim, o funcionamento dos meus orifícios nasais se mostra pleno. Por sinal, isso transforma as “viagens” de ônibus, à universidade, em um verdadeiro tormento estomacal.
Claro, é preciso ter um bom organismo para suportar, de 20 a 40 minutos, a aglomeração de pessoas e os mais variados odores: passando de hálitos cansados (de um dia de trabalho) ao hircismo; em um ambiente com o mínimo de ventilação. Sem contar com ocasiões, nada esporádicas, em que algum cidadão presenteia a todos com sua flatulência. C’est terrible!
Todavia, não é para o lado negro que desejo levar o assunto. A questão é que depois de uma noite prematura de sono, e uma película francesa que tinha le parfum como pano de fundo, despertei-me confabulando sobre os efeitos causados pelos aromas.
Há algumas semanas, troquei meu perfume de uso diário. Parecia que ele já não combinava com minha personalidade. Acabei usando uma antiga fragrância que pertencia a minha irmã, mas não era sua favorita.
Para minha surpresa, houve, com isso, uma considerável mudança também em meu humor. Senti-me mais leve e confiante. Parece que todo o frescor da essência fôra decodificado em uma sensação de liberdade. No entanto, esse precioso liquido chegou ao fim, super rápido (ok, havia menos de 1 ml no frasco), e a rotina me fez desprezar aquela alteração (de humor).
Então, na última quarta-feira, la Professeur de Français resolveu presentear ses étudiants com a apresentação do filme Prête-moi ta Main (empresta-me tua mão), traduzido como: A noiva perfeita, do diretor Eric Lartigau.
A narrativa é a respeito de um homem (Alain Chabat) que, pressionado pela família à arrumar uma esposa, contrata a irmã do amigo (Charlotte Gainsbourg) para fingir-se de noiva e evitar assim o fervor casamenteiro da mãe e das cinco irmãs.
O roteiro é engraçadinho e, sendo em francês, ganha toda a minha simpatia. Porém, não é por ele que escrevo, mas pelo que está por trás.
O protagonista, depois de uma desilusão amorosa na adolescência, transforma-se em un parfumeur (perfumista?) ou, como ele mesmo classifica, em le nez (o nariz), ao tentar reconstruir a essência de sua amada, que foi embora deixando (a ele) apenas uma écharpe.
Fôra esta história que me fez lembrar de minha própria adolescência. Não que eu tenha deixado alguma écharpe com alguém ou, pior, ficado com uma. E sim por ser identificada e sempre comentada pelo aroma que exalava de minha vasta cabeleira. Tanto que, ainda hoje, algumas pessoas lembram e perguntam a respeito do meu xampu, que foi por muito tempo quase que a minha marca.
O que me leva a crer que um simples aroma pode transformar a vida das pessoas, gerando significados que extrapolam a própria essência. E, apesar disso, muitas vezes, não nos damos conta deste fator, nem nos dedicamos em nossas escolhas. Se bem que, desconfio que são os perfumes que nos escolhem e não o contrário. Afinal, uma mesma fragrância, em peles distintas, muda completamente seu olor, isn’t it?
Ilustração: Bebel Callage
P.S.: encotrei, no youtube, o filme completo (porém, sem legenda). Quem quiser se arriscar, e dar uma olhada, é só seguir a numeração dos "capítulos". Bonne chance!
Incrível... Parece que minha concentração olfativa se dispersa e essa informação deixa de ser armazenada pelos neurônios. O que gera grande frustração à minha irmã que sempre quer saber se as pessoas são, ou não, cheirosas.
Em compensação, tratando-se de miasmas (fedor), aí sim, o funcionamento dos meus orifícios nasais se mostra pleno. Por sinal, isso transforma as “viagens” de ônibus, à universidade, em um verdadeiro tormento estomacal.
Claro, é preciso ter um bom organismo para suportar, de 20 a 40 minutos, a aglomeração de pessoas e os mais variados odores: passando de hálitos cansados (de um dia de trabalho) ao hircismo; em um ambiente com o mínimo de ventilação. Sem contar com ocasiões, nada esporádicas, em que algum cidadão presenteia a todos com sua flatulência. C’est terrible!
Todavia, não é para o lado negro que desejo levar o assunto. A questão é que depois de uma noite prematura de sono, e uma película francesa que tinha le parfum como pano de fundo, despertei-me confabulando sobre os efeitos causados pelos aromas.
Há algumas semanas, troquei meu perfume de uso diário. Parecia que ele já não combinava com minha personalidade. Acabei usando uma antiga fragrância que pertencia a minha irmã, mas não era sua favorita.
Para minha surpresa, houve, com isso, uma considerável mudança também em meu humor. Senti-me mais leve e confiante. Parece que todo o frescor da essência fôra decodificado em uma sensação de liberdade. No entanto, esse precioso liquido chegou ao fim, super rápido (ok, havia menos de 1 ml no frasco), e a rotina me fez desprezar aquela alteração (de humor).
Então, na última quarta-feira, la Professeur de Français resolveu presentear ses étudiants com a apresentação do filme Prête-moi ta Main (empresta-me tua mão), traduzido como: A noiva perfeita, do diretor Eric Lartigau.
A narrativa é a respeito de um homem (Alain Chabat) que, pressionado pela família à arrumar uma esposa, contrata a irmã do amigo (Charlotte Gainsbourg) para fingir-se de noiva e evitar assim o fervor casamenteiro da mãe e das cinco irmãs.
O roteiro é engraçadinho e, sendo em francês, ganha toda a minha simpatia. Porém, não é por ele que escrevo, mas pelo que está por trás.
O protagonista, depois de uma desilusão amorosa na adolescência, transforma-se em un parfumeur (perfumista?) ou, como ele mesmo classifica, em le nez (o nariz), ao tentar reconstruir a essência de sua amada, que foi embora deixando (a ele) apenas uma écharpe.
Fôra esta história que me fez lembrar de minha própria adolescência. Não que eu tenha deixado alguma écharpe com alguém ou, pior, ficado com uma. E sim por ser identificada e sempre comentada pelo aroma que exalava de minha vasta cabeleira. Tanto que, ainda hoje, algumas pessoas lembram e perguntam a respeito do meu xampu, que foi por muito tempo quase que a minha marca.
O que me leva a crer que um simples aroma pode transformar a vida das pessoas, gerando significados que extrapolam a própria essência. E, apesar disso, muitas vezes, não nos damos conta deste fator, nem nos dedicamos em nossas escolhas. Se bem que, desconfio que são os perfumes que nos escolhem e não o contrário. Afinal, uma mesma fragrância, em peles distintas, muda completamente seu olor, isn’t it?
Ilustração: Bebel Callage
P.S.: encotrei, no youtube, o filme completo (porém, sem legenda). Quem quiser se arriscar, e dar uma olhada, é só seguir a numeração dos "capítulos". Bonne chance!