lundi 28 juillet 2008

Memória (aleatoriamente) seletiva

“Bicho” estranho, este, chamado memória, não? Para alguns, age como um computador armazenando dados que serão, em poucos segundos, recuperados, ao menor sinal de necessidade. Outros, menos abastados, podem ficar horas tentando lembrar um fato, uma história ou o simples nome da pessoa a sua frente e... Nada. Niente. Absolument rien!
Existem, ainda, aqueles casos de memória (aleatoriamente) seletiva. Que, aqui, solamente acá, em nada dependem da vontade do proprietário da massa encefálica. A alcunha se deriva do processo de armazenamento de coisas inúteis. Sabe aquele tipo de informação que dificilmente você irá usar? Relatos de amigos, a letra da pior música a tocar na rádio, a última piração da sua mãe etc...
Então, essa é a minha. Nunca lembro o que deveria. Nomes são as últimas coisas que me vem à mente. Mas posso descrever com detalhes algumas cenas hilárias ou diálogos absurdos de meus amigos. Em particular aqueles que reservam detalhes picantes. Estranho, eu sei! E nem adianta me chamar de pervertida, está além de minhas forças.
Para me redimir, posso dizer que recordo muitos fatos de minha infância, também. Os trágicos em particular. Todavia, as bobagens imperam. Aliás, todo este prólogo é para falar sobre uma destas minhas memórias infantis.
Na época da escola, eu detestava ler em voz alta. Tinha uma dificuldade imensa de prestar atenção ao que lia (quando lia em voz alta), pois, ficava confabulando sobre o que os outros estavam falando. Abominava aquela (maldita) estratégia de cada aluno ler um parágrafo ou trecho do artigo a ser estudado. Aquilo me desconcentrava ainda mais. Afinal, temendo cometer algum erro (craxo?), começava a calcular qual à parte do texto cairia para mim. Então, lia e relia até aquela tortura passar ao próximo desesperado que deveria estar fazendo o mesmo, e deixando a compreensão da redação para segunda ordem.
Assim, quando a professora da quinta série (em meados de 1994) resolveu que toda a turma deveria ler, na integra, em voz alta, um texto repleto de “pês” e “erres”, eu surtei! Minha sorte foi que a tarefa seria realizada na aula seguinte. Ou seja, eu tinha um dia inteiro para conseguir pronunciar tudo aquilo.
Lógico que fui para casa e não larguei mais o papel mimeografado (sim, não existia xerox, naquele tempo, ao menos, não, em minha escola). Pois, li tanto que acabei decorando. Sim, a intenção era apenas conseguir pronunciar tudo sem errar, mas, acabei decorando. Seria capaz de recitá-lo se preciso fosse.
Gostaria de dizer que cheguei tranqüila, na aula, naquele dia. Contudo, minha insegurança não me permitiu tamanho alivio. Para piorar, a professora esqueceu totalmente o que tinha pedido e, no fim, ninguém leu nada. Passei o período todo apreensiva, à toa, e nunca mais esqueci o maldito texto. Vivo declamando ele por aí, sempre que algo me faz lembrá-lo.
A última vez foi em uma aula de Espanhol sobre
trava-línguas. Sabe? Aquelas frases com letras repetidas que você deve ler o mais rápido possível sem errar? Essas mesmas, do tipo: “O que é que o Kiko quer? O Kiko quer caquí. Que caquí que o kiko quer? O kiko quer qualquer caquí” etc. Foi assim que resolvi pesquisar, na Internet, a autoria desta composição que me acompanha há 14 anos e que agora compartilho com meus supostos 4 leitores. Ao que tudo indica, a poesia é do recifense Manuel Bandeira. Espero que gostem, mas não decorrem.

Procissão de pelúcia

Aonde é que vai o praça,
que passa, de peliça,
com pressa
na praça?
Ia por uma compressa,
depressa,
ao rei da Prússia.
Mas o praça não sabe o preço
para ir da praça
à Prússia .

E não há Prússia
Nem praça
Nem peliça
Nem compressa

Nem praça
Nem preço
Nem pressa...

Há uma procissão
que passa na praça
Só com preces de pelúcia...



Ilustração: Daily Candy

4 commentaires:

Anonyme a dit…

guriiiiaaa do céu...
não creio!
bem típico de Ingrid!
kkkkk

amiga... saudade... amei nossos papos de domingo! fiquei rindo a toa depois! hehehe

bjãozão!

Anonyme a dit…

Eu sou assim até hj. Odeio ler em público. Odeio.

Abs

Ingrid Guerra a dit…

Risos... coisas de Ingrid. Também adorei nossa conversa e sua visita ao meu "desertinho"! Super beijão manitcha!

Lidiana de Moraes a dit…

Não tenho muitos problemas em relação a isso...
Mas sempre fui boa em memorizar textos, poesias e músicas. Poesias especialmente da minha infância!!!