Penso, logo existo (ou deveria dizer: desisto)? Se essa máxima de Descartes for verdadeira, minha ânsia por existir deve ser tão gigantesca que meu cérebro não é capaz de conter. Afinal, não consigo ficar um segundo sequer sem matutar alguma coisa, por mais minúscula ou inútil que seja.
Não fosse a minha completa falta de tato ou inteligência social isso talvez fizesse de mim uma grande pensadora, daquelas que sai por ai dando palestras e escrevendo livros comentadíssimos e sempre citados. O problema é que minha memória é um caos e sempre que eu resolvo passar para o papel meus insights tudo parece tão banal e desnecessário que não sigo adiante. Ou, acabo fazendo outra viagem e fugindo de tudo o que pretendia escrever, pois, meu cérebro já se desconectou daquele primeiro pensamento e os neurônios estão fazendo conexões outras, totalmente opostas ou fora de propósito.
O que poderia ser uma vantagem (ter um cérebro sempre pensante), acaba sendo uma tragédia por que começo a ler uma coisa e num piscar de olhos fujo daquelas linhas e passo a delirar em meio a outro assunto.
Como se não bastasse, o fato de pensar demais me causa extremo tormento também quando decido comprar algo de alto custo. Minha criação não me ensinou a decidir por conta própria, sem saber antes tudo o que pode ou não dar errado depois desta compra. Minha mãe era o sonho de qualquer criança (que ainda não tem consciência do valor das coisas). Para ela tudo era possível. Ainda que ela nos tivesse ensinado quanto cada coisa custava e qual o valor que tínhamos disponível, sempre que queríamos muito algo, ela arrumava um jeito de suprir nossas necessidades, nem que isso a obrigasse a trabalhar triplicadamente. Em compensação, meu irmão que desde criança só pensava em como obter lucros financeiros (ele vendia os engradados do meu pai e tudo o mais que via pela frente, ainda quando tinha uns 10-12 anos) vivia me impelindo a não ter ambições já que não tínhamos condições de saná-las. Assim, desde cedo eu tive que tentar descobrir em que patamar se encontrava o meu desejo, entre o “tudo-pode” e o “nada-pode”. Consequência disso é a minha total falta de noção para lidar com preços. Sempre acho tudo muito caro e, ao invés de valorizar as coisas, valorizo mais o dinheiro. O que me faz poupar loucamente e nunca saber como usar a poupança depois. Por mais que eu precise de algo e tenha condições de comprar, sempre fico confabulando se aquilo é bom o suficiente ou se vale mesmo o quanto custa. Assim, vou perdendo as oportunidades por medo de me arrepender depois. Por estas e outras que, mesmo sem computador em casa há mais de uma semana, ainda não comprei um bendito notebook que livrará meu namorado do tormento de levar de um lado para outro o dele. Calma, meu amor. Uma hora eu me decido!
Ilustração: Kevin Dart
Não fosse a minha completa falta de tato ou inteligência social isso talvez fizesse de mim uma grande pensadora, daquelas que sai por ai dando palestras e escrevendo livros comentadíssimos e sempre citados. O problema é que minha memória é um caos e sempre que eu resolvo passar para o papel meus insights tudo parece tão banal e desnecessário que não sigo adiante. Ou, acabo fazendo outra viagem e fugindo de tudo o que pretendia escrever, pois, meu cérebro já se desconectou daquele primeiro pensamento e os neurônios estão fazendo conexões outras, totalmente opostas ou fora de propósito.
O que poderia ser uma vantagem (ter um cérebro sempre pensante), acaba sendo uma tragédia por que começo a ler uma coisa e num piscar de olhos fujo daquelas linhas e passo a delirar em meio a outro assunto.
Como se não bastasse, o fato de pensar demais me causa extremo tormento também quando decido comprar algo de alto custo. Minha criação não me ensinou a decidir por conta própria, sem saber antes tudo o que pode ou não dar errado depois desta compra. Minha mãe era o sonho de qualquer criança (que ainda não tem consciência do valor das coisas). Para ela tudo era possível. Ainda que ela nos tivesse ensinado quanto cada coisa custava e qual o valor que tínhamos disponível, sempre que queríamos muito algo, ela arrumava um jeito de suprir nossas necessidades, nem que isso a obrigasse a trabalhar triplicadamente. Em compensação, meu irmão que desde criança só pensava em como obter lucros financeiros (ele vendia os engradados do meu pai e tudo o mais que via pela frente, ainda quando tinha uns 10-12 anos) vivia me impelindo a não ter ambições já que não tínhamos condições de saná-las. Assim, desde cedo eu tive que tentar descobrir em que patamar se encontrava o meu desejo, entre o “tudo-pode” e o “nada-pode”. Consequência disso é a minha total falta de noção para lidar com preços. Sempre acho tudo muito caro e, ao invés de valorizar as coisas, valorizo mais o dinheiro. O que me faz poupar loucamente e nunca saber como usar a poupança depois. Por mais que eu precise de algo e tenha condições de comprar, sempre fico confabulando se aquilo é bom o suficiente ou se vale mesmo o quanto custa. Assim, vou perdendo as oportunidades por medo de me arrepender depois. Por estas e outras que, mesmo sem computador em casa há mais de uma semana, ainda não comprei um bendito notebook que livrará meu namorado do tormento de levar de um lado para outro o dele. Calma, meu amor. Uma hora eu me decido!
Ilustração: Kevin Dart
1 commentaire:
O micro velho estragou? Compra logo um novo!
Para uma escritora/pensadora me parece algo fundamental hoje em dia.
Não que tu não possas usar um caderno ou (uau!) uma máquina de escrever. Mas e para publicar depois?
Enregistrer un commentaire