dimanche 11 mai 2008

O que é felicidade para você (David)?


Há muito tempo não sentia tanta satisfação com um livro. Por isso, apesar da demora, não poderia negar a Paul Auster um post. Sua abordagem leve, mesmo para os assuntos mais complicados, arranca risadas espontâneas em diversos momentos de Desvarios no Brooklin e nos leva a adquirir uma certa síndrome Davidiana, tal como a personagem interpretada por Tom Cruise em Vanilla Sky. Explico!
Ao mesmo tempo em que desejamos conhecer o final das estórias contadas pelo ex-corretor de seguros Nathan Glass – que no melhor da metalinguagem nos presenteia com a obra Os Desvarios Humanos - também ficamos adiando prazeres ao reduzir o ritmo de leitura, só para que ela dure mais. Afinal, quando percebemos o volume de folhas diminuir, começamos a sentir a falta prévia do que nos fôra caro. Nesta antítese sentimental vê-se como, às vezes, uma vida quase sem sentido pode ser modificada pelos acasos do destino.
Glass volta ao bairro onde nasceu para esperar pela morte, após uma sucessão de desventuras: aposentadoria compulsória devido a um câncer do qual convalesce, divórcio da esposa, desavença com a filha e a falta de amigos. Tudo isso, prestes a completar 60 anos.
Sem ilusões sobre o futuro, ele se ocupa com registro de casos engraçados da vida de pessoas conhecidas, assim como da própria, além de algumas visitas ao comércio do bairro. Aliás, é assim que, em um sebo, ele reencontra o sobrinho Tom Wood – jovem com um futuro promissor no mundo acadêmico que, desiludido, acaba trabalhando como taxista antes de assumir uma espécie de administração no Brightman’s Attic.
A partir deste encontro, e do convívio diário com o parente, uma reviravolta ocorre na história destes dois seres, então, desprovidos de perspectiva. E mesmo com o rumo que tomara os Estado Unidos após as eleições e da queda das Torres Gêmeas em 2001, pano de fundo usado por Auster, Tom e Glass descobrem que ainda podem ser felizes. E nós, leitores, que a literatura deveria ser sempre um grande prazer. Por isso, não poderia deixar de perguntar: o que é felicidade para você?


Ilustração: Bebel Callage