vendredi 12 décembre 2008

Que comecem as estações

(Hommage à mon petit ami, qui aime Beirut) Porque a melodia é dançante, sensual, melancólica, linda e eu não consigo tirar esta música da cabeça!

Elephant Gun – Beirut

If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we drink to die, we drink tonight

Far from home, elephant gun
Let's take them down one by one
We'll lay it down, it's not been found, it's not around

Let the seasons begin - it rolls right on
Let the seasons begin - take the big king down

Let the seasons begin - it rolls right on
Let the seasons begin - take the big king down

And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the night

And it rips through the silence of our camp at night

lundi 24 novembre 2008

Desconfiada do destino

Quando as coisas parecem muito bem, sempre fico apreensiva. É como se de repente tudo fosse desabar e uma tristeza prévia acaba tomando conta de mim, sem motivos reais. Tenho vontade de chorar e ouvir músicas depressivas. O velho e irritante problema com entregas. Tentativas vãs de achar furos, defeitos ou algo que comprove minhas piores teorias.
Não acredito que seja medo de sofrimento, mas, pelo contrário, uma necessidade de dramatização da vida. É ridículo, eu sei. Ainda assim, é mais forte do que eu.
Ligar o foda-se foi a melhor coisa que fiz. No entanto, agora, quando desejo desligá-lo, por um momento, temo que isso provoque um colapso. Religá-lo pode não resolver. Então fico aqui, me apegando a um dispositivo irreal. Tal qual um viciado em tratamento, que não quer enxergar que está ingerindo placebos e que viveria bem sem eles.
Tenho muita coisa a aprender. A primeira delas é não ter medo de revelar o que se passa aqui dentro. Esquecer os julgamentos alheios e me importar menos com os outros. O processo é árduo, ainda assim, creio que sou capaz de realizá-lo com sucesso. Então, desejem-me sorte!


I'll Stand By You - The Pretenders

Oh, Why you look so sad?
Tears are in your eyes
Come on and come to me now
Don't be ashamed to cry
Let me see you through
Cause I've seen the dark side too.
When the night falls on you
You don't know what to do
Nothing you confess
could make me love you less

I'll stand by you
I'll stand by you
Won't let nobody hurt you
I'll stand by you

So,
If your mad, get mad
Don't hold it all inside
Come on and talk to me now
But hey, what you've got to hide
I get angry too
But I'm a lot like you
When you're standing at the crossroads
Don't know which path to choose
Let me come along
Cause even if your wrong...

I'll stand by you
I'll stand by you
Won't let nobody hurt you
I'll stand by you
Take me in into your darkest hour
And I'll never desert you
I'll stand by you
And when,
When the night falls on you baby
Your feeling all alone
Walking on your own

I'll stand by you
I'll stand by you
Won't let nobody hurt you
I'll stand by you
Take me in into your darkest hour
And I'll never desert you
I'll stand by you
I'll stand by you
Won't let nobody hurt you
I'll stand by you
Won't let nobody hurt you
I'll stand by you
I'll stand by you
Won't let nobody hurt you
I`ll stand by you



Ilustração: Moidsch

dimanche 16 novembre 2008

SAUDADE

Saudade é um sentimento estranho, concorda? As razões para sua manifestação são variadas: pode ser referente a uma pessoa, um objeto, alguma época ou prática; da mesma forma que há diferenças imensas no modo como cada indivíduo a percebe. Eu, por exemplo, tenho um jeito bastante peculiar de reconhecê-la. Só descubro que sinto falta de alguém quando a pessoa está perto de mim. Quando me afasto, me acostumo com a ausência.
Não lembro da última vez em que vi meu pai. Foi há mais de um ano, com certeza. Também não nos falamos por telefone. Liguei no dia dos pais, mas a ligação não pôde ser completada (estranho!). Antes disto, não recordo de outra tentativa neste ano (nem dele, nem minha). O que não significa, absolutamente, que deixamos de amar um ao outro. Apenas que a distância nos fez perder o contato, temos pouco o que falar, e nos basta saber que está tudo bem. Apenas quando o vejo, constato que senti falta dele.
Quando meu irmão e irmã saíram de casa (para morar em outra cidade, casar etc), aconteceu a mesma coisa. Hoje, com todos morando na mesma urbe, o convívio foi refeito e, por conseqüência, tenho uma necessidade maior de conversar com eles. E assim é sempre.
Às vezes me pego lamentando pelo que não fiz no passado e a carência, dos dias em que estava muito longe de me tornar uma balzaquiana, aperta meu coração. Contudo, sem sombra de dúvida, o que mais me deixa saudosa são as coisas que renuncio. Abandonar meu blog sempre me entristece muito. É como se uma parte de mim entrasse em coma. Pode até parecer exagero, mas é real.
Por mais que minha consciência tenha noção de que voltar depende apenas de mim, a tarefa não é tão simples. Quando começo a viver coisas novas no mundo real, acabo me distanciando do (meu) universo (particular) virtual. É inevitável. Até tento escrever crônicas e, por vezes, tenho muitas idéias para elas, porém, meu subconsciente me bloqueia. Começo diversos textos sem acabar nenhum, por achá-los ruins ou reveladores demais.
De fato, falo muito. E sempre dou aos assuntos um enfoque pessoal. O problema disso é que quando terceiros (conhecidos) têm acesso a esse conteúdo, nunca se saber se a interpretação por você desejada será a mesma por eles assimilada. Assim, corre-se um grande risco de incomodar alguém.
Sem contar que tenho crises por achar que a futilidade chegou em mim e parou. Pois, nunca escrevo a respeito de coisas importantes para a humanidade ou assuntos politicamente discutíveis. Na verdade, apenas acredito que alguns temas não valem a pena se debater ou que não tenho muito a acrescentar. Então, antes de falar bobagem, prefiro me calar. Todavia, nada disso elimina minha culpa ou mesmo minha saudade. Espero voltar em breve!

Ilustração: Bebel Callage

mercredi 22 octobre 2008

Feche os olhos...

Shut Your Eyes - Shout Out Louds

Say yes
Don't say no
I'm ready now
And I want to go
But if I cry, cry, cry won't
So I'll die die die alone
I want to know
Please say it isn't so

It's now
And we're too late
There's no time for a debate
But if you swear you'll never leave
Then I promise you I'll be the one
Who stays there all along
So shut, shut, shut your eyes
It sounds so good right now
And it came as a big surprise

Stay true
Don't give up
You're starting now so please stay off
What if I shout, shout, shout my name
You'll always remember my name
I want to know
Please say it is so
So shut, shut, shut your eyes
It sounds so good right now
And it came as a big surprise

So shut, shut, shut your eyes
It sounds so good right now
And it came as a big surprise



Ilustração: Moidsch

lundi 13 octobre 2008

My precious

Meu PC pifou! Em plena sexta-feira à noite ele travou (o que não é nenhuma novidade em se tratando de Windows) e não iniciou mais. Tentei de tudo: abrir a partir da última configuração salva, em modo de segurança; fiz massagem cardíaca(sic), nada resolvia o problema. Não eram nem 11 horas da noite quando o infortúnio aconteceu. E eu, sozinha em casa, sem os aparatos necessários para um socorro apropriado, tive que me conformar com o estado de coma que ele, então, adquirira.
Foi deveras triste. Confesso que dormi no sofá. Não consegui ficar no quarto. Olhar para o computador, ali, parado, sem sinais de recuperação, era demais para mim.
Acordei, no sábado, desmotivada e reclamando com as paredes. Só quem já passou por desventura semelhante sabe o que (de verdade) significa isso.
Meu PC pifou e cortou meu contato com o mundo. Como iria me informar sobre o que ocorria no planeta, comunicar-me com amigos, colegas, conhecidos? Onde poderia rever vídeos do Youtube? Quem poderia me salvar (o Chapolin Colorado sabe arrumar computador?)? Por que parar agora? Quando o teria de volta, são e salvo, em minhas mãos? Um lead a responder!
Meu PC pifou e eu tinha uma porção de trabalhos a fazer: coisas por digitar, pesquisas para entregar, compromissos a combinar... Meu PC pifou e descobri que inexistem aparelhos de som em minha casa (só o rádio funciona no último remanescente). Meu PC pifou em um final de semana chuvoso, véspera do dia das crianças e com uma péssima programação na tevê. Meu PC pifou...
Desanimada, joguei-me no sofá e ali fiquei. Controle em punho, mudando de canal a procura de qualquer coisa que me fizesse esquecer (um pouco) aquilo.
Tan-tan, tan-tan-tan-tan, tan-tan-tan-tan, tan-tan-tan-tan, tananannn, tananannn, tananannn, tanan! Trilha de missão impossível é pouco para expressar o quão difícil isso seria. Pois, no Multishow, Carrie Bradshaw passava pelo mesmo drama.
Nos não fizemos backup (eu salvo algumas coisas, mas não tudo), nos não acreditamos que aquilo estivesse acontecendo com a gente, não agora, não assim. Todavia, ainda que eu não simpatize muito com Sex and the City, Carrie (Sarah Jessica Parker) é CARRIE. Ela não tinha um simples PC, tinha um Mac (Macintosh). Ela não estava sozinha em casa, estava com Aidan Shaw (John Corbett).

Parêntese aberto para falar de Aidan Shaw: o cara é o genro que qualquer mãe gostaria de ter. Amoroso, atencioso, carinhoso, gostoso, fofo, integro, respeitador, muuuuito paciente, lindo e todos os bons adjetivos possíveis que você possa encontrar, encaixam-se a personalidade do moço.
Eu não quero casar, mas eu casava com ele (se ele não fosse uma utopia ambulante). Parêntese fechado.

Na série, não era final de semana e ela pôde levar ao conserto o seu precioso notebook. E, mesmo que fosse, ela mora em New York (New York!) a cidade que não pára. Além disso, o ma-ra-vi-lho-so Aidan, vendo o desespero da moça, comprou um novo Mac pra ela, todo fofinho, achando que a deixaria feliz. Ledo engano, a pessoa surtou, brigou com ele dizendo que ela queria o Mac DELA, não um novo, etc e tal (pior que não posso criticá-la por isso. Também tenho problemas em aceitar presentes, favores e assemelhados). Como sempre, Aidan foi um gentleman e compreendeu a sua dor, pedindo, apenas, que deixasse que ele também tivesse importância em sua vida.
Já no mundo real, em Porto Alegre, eu tive que contar com a ajuda de minha querida amiga Lu e seu PC salvador. Aliás, devo a ela, também, o renascimento, das cinzas, do meu querido-salve-salve HDzinho, em um episódio de “além da imaginação”. Afinal, foi quando iria lhe mostrar a tela bizarra e colorida que aparecia sempre que eu tentava ligar a máquina, que pensei: só falta agora ele funcionar direitinho, só para contrariar!
Em seguida ocorreu-me um insight: se isso acontecesse, de verdade, seria a minha salvação. Então, lá estava eu... repetindo duas vezes a bendita frase, para que meu desejo se realizasse. Sim, milagres acontecem (basta repetir duas vezes o seu desejo). Minha fênix abriu os olhinhos e vôo lépida e fagueira pelo quarto, iluminando novamente meu mundinho, trazendo novos sons a minha vida e um happy end para um sábado a noite, no qual, tudo pode mudar.

Ilustração: Moidsch.

mardi 7 octobre 2008

Pausa

Três textos pela metade, um pseudo-poema semi-pronto, uma pontinha de vontade de postar e uma imensa gana de xingar meio mundo. Como meus leitores não merecem isso, vou me afastar. Estou cansada de reclamar. Preciso de um tempo para pensar. Colocar tudo em ordem e entender melhor este vazio. Tentarei não demorar.
Au revoir, à bientôt.


Vou-me Embora pra Pasárgada - Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

mardi 30 septembre 2008

Le parfum

O olfato não é meu sentido mais apurado. Jamais foi. Aliás, abstraio eflúvios de uma forma irritante. São raras às vezes em que consigo perceber fragrâncias nas pessoas, sobretudo nos garotos com quem fiquei.
Incrível... Parece que minha concentração olfativa se dispersa e essa informação deixa de ser armazenada pelos neurônios. O que gera grande frustração à minha irmã que sempre quer saber se as pessoas são, ou não, cheirosas.
Em compensação, tratando-se de miasmas (fedor), aí sim, o funcionamento dos meus orifícios nasais se mostra pleno. Por sinal, isso transforma as “viagens” de ônibus, à universidade, em um verdadeiro tormento estomacal.
Claro, é preciso ter um bom organismo para suportar, de 20 a 40 minutos, a aglomeração de pessoas e os mais variados odores: passando de hálitos cansados (de um dia de trabalho) ao hircismo; em um ambiente com o mínimo de ventilação. Sem contar com ocasiões, nada esporádicas, em que algum cidadão presenteia a todos com sua flatulência. C’est terrible!
Todavia, não é para o lado negro que desejo levar o assunto. A questão é que depois de uma noite prematura de sono, e uma película francesa que tinha le parfum como pano de fundo, despertei-me confabulando sobre os efeitos causados pelos aromas.
Há algumas semanas, troquei meu perfume de uso diário. Parecia que ele já não combinava com minha personalidade. Acabei usando uma antiga fragrância que pertencia a minha irmã, mas não era sua favorita.
Para minha surpresa, houve, com isso, uma considerável mudança também em meu humor. Senti-me mais leve e confiante. Parece que todo o frescor da essência fôra decodificado em uma sensação de liberdade. No entanto, esse precioso liquido chegou ao fim, super rápido (ok, havia menos de 1 ml no frasco), e a rotina me fez desprezar aquela alteração (de humor).
Então, na última quarta-feira, la Professeur de Français resolveu presentear ses étudiants com a apresentação do filme Prête-moi ta Main (empresta-me tua mão), traduzido como: A noiva perfeita, do diretor Eric Lartigau.
A narrativa é a respeito de um homem (Alain Chabat) que, pressionado pela família à arrumar uma esposa, contrata a irmã do amigo (Charlotte Gainsbourg) para fingir-se de noiva e evitar assim o fervor casamenteiro da mãe e das cinco irmãs.
O roteiro é engraçadinho e, sendo em francês, ganha toda a minha simpatia. Porém, não é por ele que escrevo, mas pelo que está por trás.
O protagonista, depois de uma desilusão amorosa na adolescência, transforma-se em un parfumeur (perfumista?) ou, como ele mesmo classifica, em le nez (o nariz), ao tentar reconstruir a essência de sua amada, que foi embora deixando (a ele) apenas uma écharpe.
Fôra esta história que me fez lembrar de minha própria adolescência. Não que eu tenha deixado alguma écharpe com alguém ou, pior, ficado com uma. E sim por ser identificada e sempre comentada pelo aroma que exalava de minha vasta cabeleira. Tanto que, ainda hoje, algumas pessoas lembram e perguntam a respeito do meu xampu, que foi por muito tempo quase que a minha marca.
O que me leva a crer que um simples aroma pode transformar a vida das pessoas, gerando significados que extrapolam a própria essência. E, apesar disso, muitas vezes, não nos damos conta deste fator, nem nos dedicamos em nossas escolhas. Se bem que, desconfio que são os perfumes que nos escolhem e não o contrário. Afinal, uma mesma fragrância, em peles distintas, muda completamente seu olor, isn’t it?

Ilustração:
Bebel Callage

P.S.: encotrei, no youtube, o filme completo (porém, sem legenda). Quem quiser se arriscar, e dar uma olhada, é só seguir a numeração dos "
capítulos". Bonne chance!

dimanche 21 septembre 2008

Administração familiar

Eu arrisquei. Juro que me esforcei. Estava até com umas idéias interessantes, embora não tivesse decidido ainda qual a melhor forma para abordá-las. Mas a realidade está no meu encalço. Nem adianta tentar fugir para a literatura, pois, ela me persegue; me acompanha até nos momentos mais íntimos. Fica atiçando meus neurônios com seus orçamentos, metas e balanços, para que eu adicione um novo déficit ao meu cotidiano: o de atenção.
Admito que, no colégio, adorava matemática. No entanto, viver em meio aos números nunca fez minha cabeça. Agora, eles não saem dela. Em pouco tempo estarei sonhando com planilhas. Notinhas amarelas me arrepiam.
Quero mais C nos extratos bancários e menos D na vida. Sem esquecer, claro, de outrem para cuidar das contas. Administração familiar não é para mim. Formei-me em jornalismo, o currículo era outro.
Ok. Não tenho escapatória, não é? Ao menos posso fazer um último pedido?
Deus, na próxima encarnação, por favor, me traga ao mundo em um corpo masculino: inteligente, belo e sedutor e com um ótimo saldo no banco. Sem esquecer de um pequeno, mas importante detalhe: para que eu não seja alvo de moçoilas casadoiras ou mulheres raivosas, por óbvio, me faça gay. Merci!

Ilustração: Orlanderli

vendredi 19 septembre 2008

Calma...

La Edad Del Cielo - Jorge Drexler

No somos más
que una gota de luz,
una estrella fugaz,
una chispa, tan sólo,
en la edad del cielo.

No somos lo
que quisiéramos ser,
solo un breve latir
en un silencio antiguo
con la edad del cielo.

Calma,
todo está en calma,
deja que el beso dure,
deja que el tiempo cure,
deja que el alma
tenga la misma edad
que la edad del cielo.

No somos más
que un puñado de mar,
una broma de Dios,
un capricho del Sol
del jardín del cielo.

No damos pie
entre tanto tic tac,
entre tanto Big Bang,
sólo un grano de sal
en el mar del cielo.

Composição: Jorge Drexler



Ilustração: Bebel Callage

vendredi 12 septembre 2008

Aos que moram perto de nós

Já passa de uma da manhã e minha vizinha decide cozinhar. Não bastasse o odor da comida, posso ouvi-la revirar o alimento na panela. O barulho e o cheiro são de fritura. Há algo com alho também, não sei ao certo. A cozinha nunca foi meu ambiente preferido. Pelo visto, nem o dela, já que o fogão fica do lado de fora do apartamento. Aliás, é exatamente por isso que consigo ouvir e sentir tudo o que ela faz, ainda que eu esteja, em meu quarto, há duas peças de distância e um andar acima do local onde ela cozinha, no prédio ao lado. Maldita janela aberta ou serão meus sentidos excessivamente aguçados?
Se bem que não posso reclamar. O dia foi tranqüilo. Não me droguei, por tabela, como de costume, ao entrar no banheiro. Sabe como é, o vizinho de baixo adora uma marihuana. E, mais do que isso, seu local preferido para acender um baseado é o toilette. Só pode ser, porque é de lá que vem aquele aroma tão "agradável" que empesteia a casa toda. Às vezes fico pensando que se fosse chegada no bagulho nem precisaria gastar dinheiro ou me arriscar em bocas-de-fumo. Bastaria colocar a cara no exaustor e pronto. Seria uma maravilha, não?
Fora isso, posso dizer até que eles são legais. Quase sempre retribuem os cumprimentos, embora as moças tenham o habito de fechar a porta na cara de qualquer pessoa, sem esperar um milésimo de segundo por quem está atrás. Pobrezinhas, vivem tão apressadas. Exceto, claro, quando faço a gentileza de segurar o portão. Aí sim, elas podem desfilar com toda a calma e charme que deus lhes concebeu. Quem mandou ser educada? Ninguém pediu para esperar, agora agüenta!
É preciso ter tolerância para viver em um edifício. Saber que os outros não são os únicos com manias irritantes. Sei que também faço barulhos. Sobretudo quando decido limpar a casa de madrugada, ainda que minhas faxinas sejam raras. Pois é, ninguém escapa. Então, o melhor a fazer é relaxar, fechar a porta e ligar o som bem baixinho. Quem sabe isso me ajude a ir para cama ou, ao menos, atualizo o Arquivos.

Ilustração: Bebel Callage.

mercredi 10 septembre 2008

Eu não sou tua coisa

Ok. Eu sei que estou “musical” demais, nos últimos tempos. Prometo um texto meu em breve. Mas, amo essa chanson. Não poderia deixar de colocá-la aqui, sobretudo depois de tê-la encontrado no youtube (ainda que o “vídeo” seja, de fato, uma coisa. Que, graças a Deus, não é minha). Espero que gostem.

Je ne suis pas ta chose - Camille Dalmais*

Un ballon crevé sur la route
Le train que l'on vient de rater
Je suis la branche qui s'arque boute
La pluie sur la vitre brisée

Voilà où me mène ton petit jeu
Ne suis pas ta chose
Je ne suis pas ta chose
Je ne suis pas ta chose
La fille sur qui tu poses
Tes mains

J'aurais voulu être ta muse
Ton idole ou ta dulcinée
Mais je serai la porte close
La bague qu'on oublie de porter
La photo qu'on a déchirée
Voilà où nous mène ton petit
Je ne suis pas ta chose
Je ne suis pas ta chose
Non non non non
Je ne suis pas ta chose
La fille sur qui tu poses
Tes mains

J'aurais préféré ta bouche
A mon corps indigo sous tes coups

Je ne suis pas ta chose
Je ne suis pas ta chose
Je ne suis pas ta chose
Non non non non non non
Je ne suis pas ta chose
La fille sur qui tu poses
Tes mains
Je ne suis pas ta chose
Je ne suis pas ta chose

Je ne suis pas ta chose
La fille sur qui tu poses
Tes mains
Je ne suis pas ta chose
Je ne suis pas ta chose
Non non
Je ne suis pas ta chose
La fille sur qui tu poses

Je ne suis pas ta chose
{Ad lib}

* 2002 "Le Sac Des Filles"


Ilustração: Moidsch

samedi 6 septembre 2008

Um minuto

Comer,
sem degustar.
Dormir,
sem descansar.
Beber,
sem a sede saciar.

Sair,
sem se animar.
Fugir
e aqui ficar.
Falar
(já) não vai adiantar.

Acabou.
Nem ela lhe restou.

SILÊNCIO!

Aqui jaz a Esperança.
(por Ingrid Guerra)


Ilustração: Gracjana - Woman in action*
(o site não existe mais, eu acho)

jeudi 4 septembre 2008

Quinta a noite...

Foundations - Kate Nash

Thursday night, everything's fine, except you've got that look in your eye
When I'm telling a story and you find it boring,
You're thinking of something to say.
You'll go along with it then drop it and humiliate me in front of our friends.

Then I'll use that voice that you find annoying and say something like
"Yeah, intelligent input, darling, why don't you just have another beer then?"

Then you'll call me a bitch
And everyone we're with will be embarrassed,
And I won't give a shit.

My fingertips are holding onto the cracks in our foundation,
And I know that I should let go,
But I can't.
And everytime we fight I know it's not right,
Everytime that you're upset and I smile.
I know I should forget, but I can't.

You said I must eat so many lemons
'Cause I am so bitter.
I said
"I'd rather be with your friends mate 'cause they are much fitter."

Yes, it was childish and you got agressive,
And I must admit that I was a bit scared,
But it gives me thrills to wind you up.

My fingertips are holding onto the cracks in our foundation,
And I know that I should let go,
But I can't.
And everytime we fight I know it's not right,
Everytime that you're upset and I smile.
I know I should forget, but I can't.

Your face is pasty 'cause you've gone and got so wasted, what a suprise.
Don't want to look at your face 'cause it's making me sick.
You've gone and got sick on my trainers,
I only got these yesterday.
Oh my gosh! I cannot be bothered with this.

Well, I'll leave you there 'til the morning,
And I purposely won't turn the heating on
And dear God, I hope I'm not stuck with this one.

My fingertips are holding onto the cracks in our foundation,
And I know that I should let go,
But I can't.
And everytime we fight I know it's not right,
Everytime that you're upset and I smile.
I know I should forget, but I can't.

[x2]

And everytime we fight I know it's not right,
Everytime that you're upset and I smile.
I know I should forget, but I can't.

Composição: Kate Nash / Paul Epworth


samedi 30 août 2008

TELAS DO EFÊMERO : A COMPOSIÇÃO DE VITRINES

(sim, isso é um artigo!)

1. INTRODUÇÃO

Os contrates existentes, nas grandes cidades, entre o centro e os bairros, são notórios, ainda que tratemos de assuntos que fogem ao óbvio – das diferenças arquitetônicas, de limpeza etc – e passemos a analisar os produtos, digamos, mais efêmeros, como os relativos à moda. Todos sabemos que cada local tem seus próprios códigos e modos de vida. Parece relevante, no entanto, tentar traçar um paralelo entre estes dois ambientes e buscar identificar os preceitos que cada um deles utiliza, quando se trata de vestuário.
Para tanto, optamos pela análise de vitrines de lojas de roupas e calçados, tendo como referência a cidade de Porto Alegre. A escolha dos estabelecimentos se deu de forma aleatória, com a preocupação apenas deles estarem nas ruas (lojas de rua), não dentro de shopping centers, e haver a possibilidade de comparação entre os existentes no centro da capital e em um bairro nobre, aqui ilustrado através do Moinhos de Vento.
Assim, o presente artigo trará quatro fotos que ilustrarão os aspectos de composição e propostas das vitrines. Não nos deteremos, porém, aos objetos e conceitos que possam ser vistos nelas – já que para tanto seria necessária a exposição de um material muito mais extenso –, o que significa que algumas abordagens não terão comprovação visual.


2. TELAS DO EFÊMERO : COMPOSIÇÃO DE VITRINES

As vitrines são importantes meios de sedução dos consumidores, uma montagem que concentra inúmeras áreas que se fundem para criar uma imagem cujo propósito é gerar prazer por alguns segundos" (DEMETRESCO, 2001: 25). São elas as responsáveis pela captação da atenção de potenciais compradores. Para a doutora em Comunicação Semiótica Sylvia Demetresco (2001: p. 15), “uma vitrina deve seduzir o olhar instantaneamente na sua apresentação, de forma a sensibilizar determinado sujeito”. Contudo, é preciso estar atento às transformações ocorridas no último século, quanto ao papel das roupas na construção da identidade pessoal. “O consumidor, agora, seleciona ativamente ao invés de responder passivamente ao que está disponível (CRANE, 2006: p. 455). Portanto, mais do que produtos atraentes, é preciso apresentar “argumentos” suficientes para que o sujeito tenha a necessidade de entrar na loja e adquirir mais “informações” a respeito do que está exposto.
Assim, um bom questionamento para análise parecer ser: como os estabelecimentos comerciais do centro e dos bairros nobres codificam tudo isso? Ou ainda, de que forma eles constroem suas vitrines e que reações esperam do público, além da óbvia compra?
Através de um passeio por duas das mais tradicionais ruas de Porto Alegre: Andradas (no centro da capital) e Padre Chagas (no bairro Moinhos de Vento); fica claro todo o processo de diferenciação entre os dois ambientes. O inverno tardio, de 2008, acabou tendo um papel importante na construção desta apreciação, já que, temendo que as peças de inverno ficassem encalhadas nos estoques, as lojas anteciparam suas costumeiras promoções de final de estação.

A lógica organizacional instalada na esfera das aparências na metade do século XIX difundiu-se, com efeito, para toda a esfera de bens de consumo: por toda parte são instâncias burocráticas especializadas que definem os objetos e as necessidades; por toda parte impõe-se à lógica da renovação precipitada, da diversificação e da estilização dos modelos. Iniciativa e independência do fabricante na elaboração das mercadorias, variação regular e rápida das formas, multiplicação dos modelos e séries – estes três princípios inaugurados pela Alta Costura não são mais apanágios do luxo do vestiário, são o próprio núcleo das indústrias do consumo (LIPOVETSKY, 2003: p. 159).

Desta forma, um componente adicional foi trazido para a pesquisa. A palavra de ordem é: liquidação. Os descontos e termos que derivam dela pululam por toda à parte. Onde quer que seus olhos parem, lá estarão elas em grandes letreiros que, por vezes, ocupam completamente o espaço de exposição das mercadorias. Verificam-se, também, principalmente nos bairros nobres, o emprego de estrangeirismo para anunciá-las. Assim, palavras como Sale ("liquidação") e OFF ("fora") – sempre acompanhada de uma percentagem – tornam-se comuns. Ainda que nem todos saibam os seus significados reais, muitas lojas, mesmo as localizadas no centro da cidade, utilizam-se deste artifício, que acaba sendo assimilado pela população em decorrência de seu uso freqüente.
O diferencial, neste aspecto, entre os dois ambientes é que, no centro, por maiores que sejam os letreiros indicativos de promoções, eles nunca impedem a visão completa do produto, ainda que a dificultem. Já no Moinho de Vento, algumas lojas optam por esconder totalmente a mercadoria. Ou seja, eles ignoram a possível atração do consumidor pelo produto e tentam fisgá-lo através do apelo financeiro, com descontos que podem chegar a 70% sob o valor da compra. Espera-se, portanto, que ao se defrontar com tal incentivo ao consumo, o possível cliente entre na loja para conferir os produtos e se entregue ao poder de persuasão das atendentes que farão de tudo para que ele não saia dali de mãos vazias.
As questões econômicas parecem ser, por sinal, as de maior influência na construção de vitrines no centro da cidade. As lojas mais populares chegam a expor letreiros enormes com as cifras no valor do objeto, espalhando a mercadoria em grande quantidade, sem muita preocupação estética, veja ilustração 4. Os manequins de roupas são, via de regra, agrupados de forma paralela e exibem as tendências divulgadas pelas novelas ou por celebridades – ainda que nem sempre sejam felizes nesta tarefa – como podemos ver na ilustração 1.
No Moinhos de Vento, por sua vez, os preços só aparecem por determinação do Código de Defesa do Consumidor
[1] e, ainda assim, procura-se deixá-los o menos visível possível, como podemos ver na ilustração 2. As lojas se preocupam mais com a criação do ambiente do que em mostrar a roupa. Eles ‘desejam’ vender atitudes, não apenas vestuário; estratégia já reconhecida pela pesquisadora Sylvia Demetresco: “a leitura de uma vitrina sugere um modo de vida, um uso diferenciado de um produto ou uma nova possibilidade de ver um artigo usual” (2001: p. 14). Deste modo, como vemos na ilustração 3, os manequins são postos de forma quase que interagindo entre si. Eles estão totalmente vestidos e usam acessórios que facilitam a composição do ambiente de interação.
Em outro caso, infelizmente sem ilustração neste artigo, no meio de dois manequins, são expostos vários cabides e algumas camisetas com a intenção de criar quase uma forma de arte. Um design que levará o passante a parar e se perguntar: qual é a proposta daquilo? E, se o agradar, de repente leve-o a entrar na loja e descobrir os estilos de roupa que aqueles cabides escondem e se elas combinam com seu modo de vida ou não. Pois, “através da moda e da indumentária é que nos constituímos como seres sociais e culturais, e que decodificamos o nosso milieu social e cultural” (BARNARD, 2003: p. 64).

Ilustração 1: Loja localizada na Rua dos Andradas, centro de Porto Alegre: preços sempre bem visíveis, pouco interesse estético.


Ilustração 2: Loja localizada na rua Padre Chagas, bairro Moinhos de Vento: preocupação com a composição do ambiente


Ilustração 3: Loja localizada na rua Padre Chagas: preços quase invisíveis, descontos em destaque.


Ilustração 4: Loja localizada na Rua dos Andradas: preços em destaque, mercadorias aglomeradas


3. CONCLUSÃO


“A sociedade de consumo”, que se classifica, segundo o sociólogo Gilles Lipovetsky, pela “elevação dos níveis de vida, abundância das mercadorias e serviços, culto dos objetos e dos lazeres, moral hedonista e materialista” (LIPOVETSKY, 2003: p. 159) estruturada no processo de moda, nos levará inexoravelmente a busca pelo prazer, ainda que momentâneo, esteja ele na apreciação do belo ou na obtenção de mercadorias com preços abaixo da média.
Assim, “exposto num espaço comercial, rodeado de um cenário inusitado, o produto entra no mundo dos consumidores, que, enquanto observadores, investem neles determinados valores” (DEMETRESCO, 2001: p. 13) e procuram adquiri-los, por vezes, mesmo quando não teriam condições para isso. Portanto, ainda que existam diferenças de elaboração e subsídios para a persuasão do consumidor, o fator econômico ainda é a principal influência para a organização de vitrines. A sociedade centrada na expansão das necessidades é, antes de tudo, aquela que reordena a produção e o consumo de massa sob a lei da obsolescência, da sedução e da diversificação, aquela que faz passar o econômico para a forma da moda” (LIPOVETSKY, 2003: p. 159).

[1] É obrigatório por lei informar aos consumidores de maneira clara, precisa e ostensiva o valor à vista dos bens ou serviços, conforme determina o Código de Defesa Do Consumidor (Lei nº 8.078/90). A lei federal nº 10.962/04, que regula a afixação de preços em todo o território nacional. http://www.sincopecas.org.br/noticias/?COD=696


4. REFERÊNCIAS

BARNARD, Malcolm. Moda e comunicação. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.

CRANE, Daiana: A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo, Senac, 2006.

DEMETRESCO, Sylvia. Vitrina, construção de encenações. São Paulo: Senac, 2001.

LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.


OBS: Escrevi este artigo para minha Pós em Moda, Criatividade e Inovação (SENAC-RS), no primeiro semestre deste ano. Não posso dizer que ele ficou como gostaria, meus conhecimentos são um tanto limitados (por enquanto). Ainda assim, a professora achou interessante e disse que deveria postá-lo por aqui. Aceitei a dica e resolvi compartilhá-lo. Espero que gostem.

mardi 26 août 2008

Falta um pouco de mim aqui

Sempre achei muito fácil escrever crônicas. Talvez por isso não entendesse muito bem o sofrimento dos meus colegas (de faculdade), na tentativa de arrancar algo tão informal de suas mentes. Qual seria a dificuldade em relatar uma situação cotidiana, um fato banal ou qualquer coisa do tipo, podendo usar o recurso de primeira pessoa?, pensava eu. Deveras estranho!
A verdade é que tive uma boa professora (que sequer conheci pessoalmente): Martha Medeiros*, a escritora de Divã, Selma e Sinatra, Tudo Que Eu Queria Te Dizer, entre outros, e que dispõe de uma coluna todas as quartas e domingos no jornal (gaúcho) Zero Hora.
Ainda que alguns intelectualizados a desprezem, ela me influenciou bastante, pois, escreve com tanta simplicidade suas crônicas que cria nas pessoas a coragem necessária para se aventurarem pelo universo das letras. Ao menos, foi assim comigo.
Na escola odiava português. Gramática era meu maior pesadelo. Creio que passei (de uma série a outra) todos aqueles anos apenas por minha boa interpretação textual. Todavia, adorava ler, embora não lesse tanto quanto deveria. O que me deixa em dívida com a literatura nacional. De alguma forma, porém, acabei associando tudo isso ao jornalismo, mesmo preferindo matemática.
Contudo, hoje sinto que falta um pouco de mim aqui. Antes, no meu
roxinho-perturbador, era tão fácil transformar o percurso de casa à faculdade ou os amores impossíveis em crônicas. Elas surgiam do nada e acabavam se moldando ao cotidiano daqueles que as liam. Era reconfortante perceber isso.
Mas, agora, não sei o que há. Idéias não me faltam, tenho-as com freqüência. O problema ocorre quando as transfiro para o papel. Tudo parece meio disforme, enfadonho, sem interesse. Cobranças demais? É provável!
Talvez eu só precise viver mais, vai saber.


* Foram mencionadas, aqui, apenas as obras ficcionais da escritora. No entanto, Martha Medeiros possui 18 livros publicados: entre poemas, crônicas, conto infantil e, claro, as ficções. Dos supracitados, li apenas Divã. Tenho que confessar que a prefiro como cronista.

Ilustração: Bebel Callage.

mardi 19 août 2008

Onde os fracos não tem vez

Tenho sido relapsa com o cinema nos últimos tempos. Logo que vim para Porto Alegre, em 2003, era freqüentadora assídua de diversas salas. Hoje, se quer passo próximo a elas, tampouco loco DVDs. Dias difíceis e um pouco de preguiça são as justificativas. Por isso, demorei para assistir ao premiado filme dos irmãos Coen: No Country for Old Men.
Contudo, neste final de semana, a tarefa foi cumprida. Ao fim da projeção tive até uma agradável surpresa. Minha irmã gostou da película, mesmo sendo contrária a tudo o que foge do convencional-cinematográfico. Não ouvi nenhuma reclamação. E, temos que admitir, o desfecho é bastante incomum.
Palmas para ela e para os Coen, que conseguiram criar uma trama capaz de prender a atenção até dos mais chatos espectadores.
Apesar de toda a violência, a estória não é apresentada de uma forma pesada. Pois, a narrativa é repleta de humor. Um humor sutil, refinado ainda que simples. Contido, não somente, nos diálogos como na configuração das personagens. Ou alguém ousará discordar que o visual de Anton Chigurh (cabelo à la Beiçola – Grande Família) aliado aos trejeitos criados por Javier Bardem dão uma graça incomum ao temido matador? Basta lembrar as cenas em que, quando tenta extrair informações de alguém não disposto a colaborar, fica repetindo a pergunta com cara de poucos-amigos e dando uma nova entonação à cada frase. É hilário!
Mas ele não é o único, o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), sua mulher Loretta Bell (Tess Harper) e seu assistente também são figuras engraçadas. Isso sem falar nos diálogos do casal Moss, Llewelyn (Josh Brolin) – o texano que pega o dinheiro da malsucedida transação de drogas – e Carla Jean (Kelly Macdonald). Impossível ficar incólume a eles. Portanto, recomendo.

Llewelyn Moss – Se você continuar tagarelando te levo lá para os fundos e te como.
Carla Jean Moss – Só sabe falar!
Llewelyn – Continue e vai ver.

Carla Jean – Eu estou com um mau pressentimento.
Llewelyn – E eu com um bom, então zerou.

Llewelyn – Se eu não voltar, diga a minha mãe que a amo.
Carla Jean – Sua mãe está morta. Llewelyn – Então eu mesmo digo


Loretta Bell – Tenha cuidado!
Ed – Sempre tenho.
Loretta – Não se machuque
Ed – Nunca me machuco.
Loretta – Não machuque ninguém.
Ed – (risos) você manda.


samedi 16 août 2008

Ilumine minha noite!

Honey And The Moon - Joseph Arthur

Don't know why I'm still afraid
If you weren't real I would make you up
now
I wish that I could follow through
I know that your love is true
And deep
As the sea
But right now
Everything you want is wrong,
And right now
All your dreams are waking up,
And right now
I wish I could follow you
To the shores
Of freedom,
Where no one lives.

Remember when we first met
And everything was still a bet
In love's game
You would call; I'd call you back
And then I'd leave
A message
On your answering machine

But right now
Everything is turning blue,
And right now
The sun is trying to kill the moon,
And right now
I wish I could follow you
To the shores
Of freedom,
Where no one lives

Freedom
Run away tonight
Freedom, freedom
Run away
Run away tonight

We're made out of blood and rust
Looking for someone to trust
Without
A fight
I think that you came too soon
You're the honey and the moon
That lights
Up my night


But right now
Everything you want is wrong,
And right now
All your dreams are waking up,
And right now
I wish that I could follow you
To the shores
Of freedom
Where no one lives

Freedom
Run away tonight
Freedom freedom
Run away
Run away tonight

We got too much time to kill
Like pigeons on my windowsill
We hang around

Ever since I've been with you
You hold me up
All the time I've falling down

But right now
Everything is turning blue,
And right now
The sun is trying to kill the moon,
And right now
I wish I could follow you
To the shores
Of freedom
Where no one lives


lundi 11 août 2008

Moda e Guerra

Apesar de ter sido considerado, por muitos anos, no Brasil em particular, um assunto frívolo, a moda possui grande importância social. Através dela é possível traçar panoramas bastante representativos de ambientes políticos, econômicos e culturais de cada época. Em vista disto, autores como a historiadora (francesa) Dominique Veillon, através de sua obra Moda & Guerra – Um Retrato da França Ocupada (Jorge Zahar, 270 págs), têm contribuído para devolver a essa industria o valor, por tanto tempo, a ela relegado.
Misturar dois assuntos, em principio, antagônicos, pode parecer estranho. Mas basta começar a leitura para entender a legitimidade da associação. O livro de Veillon mostra como a costura parisiense – que colaborava, na época, para “a subsistência de 20.000 operários e 500 funcionários, além de ter influência direta sobre a vida de outras industrias: têxteis, sedas, peles, rendas, etc.”(pág. 34) – se manteve em funcionamento apesar dos imperativos impostos pelos alemães, durante a Segunda Guerra Mundial.
“No intervalo de uma estação, a vida cotidiana se degradou consideravelmente para uma maioria dos franceses” (pág. 73). Obrigados a disporem de tíquetes para a aquisição de uma cota determinada de gêneros alimentícios, as restrições alcançaram também o vestuário. “Tudo o que toca a moda vê-se atingido pela crise. Em janeiro de 1941 cria-se bônus de calçados e em julho, do mesmo anos, entra em circulação o cartão de vestuário” (pág. 73). Para uma sociedade que se orgulha de ser a vitrine para mundo e que não pretende abandonar tal status, parece impossível a adaptação às regras alemãs. No entanto, a criatividade e o empenho na descoberta de alternativas para a escassez de matéria prima dão resultados. Ainda que seja preciso usar toda a sorte de material: das cortinas de casa aos fios de cabelos deixados nos salões ou recolhidos nos campos de concentração. Tudo é aproveitado.
Os acessórios também ajudam a manter um certo glamour que os trajes perderam. Alguns até ganham ares de símbolo de resistência.
“O chapéu consola uma época sem sorrisos, quando não, ao se optar por uma farsa, por ser um jeito de zombar do ocupante, uma espécie de nariz do mundo. O senhor do momento é ele” (pág. 114).
Apesar de não seguir uma cronologia linear e, assim, acabar se repetindo, Veillon apresenta um texto bastante cativante e consegue prender a atenção do leitor, presenteado-o, ao fim, com a descrição do momento exato em que, após tantas transformações, surge um novo modo de vestir-se, apresentado nas criações de Christian Dior."
Desta vez, a página está virada, a guerra de fato acabou, o estilo new look se lança à conquista do mundo, ao mesmo tempo em que se presta a adaptações múltiplas, em que, o prêt-à-porter ocupará um espaço cada vez maior”. Sem dúvida uma história que vale a pena ser lida. Então.. boa leitura.

......

P.S.: Agradecimento:

Obrigada Digestivo Cultural, pelos novos leitores.

jeudi 31 juillet 2008

Verdades e mentiras (Perto demais!)

Closer é muito mais do que um filme sobre relacionamentos amorosos. Sua essência está na relação entre verdades e mentiras. Uma analogia da vida como um todo: o que omitimos e o que revelamos; conseqüência da escolha por se entregar ou se preservar.
Um revirar de vísceras ou soco no estomago contido em cada pequena frase ou nos grandes diálogos, ainda que antagônico, capaz de trazer alívio. Você sente tudo. Cada palavra que ganha vida na atuação dos atores passa por um processo de identificação. Você ri, você sofre, você ama e odeia com a mesma intensidade, não se pode fugir da projeção.
Por tudo isso e, também, porque o canal People & Arts acabou de “passá-lo” (eu perdi a transmissão da Globo, no início da semana) e não há como ficar inerte a ele, publicarei aqui minhas falas favoritas. Sendo as palavras o principal foco disso, me abstenho da tarefa de transcrever o contexto em que elas ocorreram. Espero que gostem.


Larry: O livro é sobre você?
Alice: É sobre parte de mim.
Larry: E que parte ele deixou de fora?
Alice: A verdade.


Alice: Posso te ver? Responde! Eu posso te ver?
Dan: Não posso. Se te ver, nunca vou te deixar!
Alice: E se eu achar outro?
Dan: Vou ficar com ciúmes.

Alice: Você me amou?
Dan: Eu sempre vou te amar. Odeio te magoar.
Alice: E por que está magoando?
Dan: Porque eu sou egoísta e acho que vou ser mais feliz com ela.
Alice: Não vai. Vai sentir a minha falta. Ninguém vai te amar como eu.
Dan: Eu sei.

Alice: Eu te amo! Por que o amor não é o bastante?
Alice: Eu te divirto, mas te canso.
Dan: Não!

Alice: Você ainda gosta de mim?
Dan: Claro!
Alice: Você está mentindo... Eu já estive no seu lugar...
Alice: Me abraça.

Larry: Eu sei quem você é. Eu te amo. Eu amo tudo que dói em você.
Larry: Vamos comigo até o meu apartamento.
Alice: Eu não sou prostituta.
Larry: Eu não pagaria.

Alice: Mentir é a coisa mais divertida que uma garota pode fazer sem ter que tirar a roupa. Mas é melhor se tirar.


Alice: Onde está esse amor? Eu não posso vê-lo, eu não posso tocá-lo, eu não posso senti-lo. Eu só posso ouvi-lo. Eu posso ouvir algumas poucas palavras, mas não posso fazer nada com suas palavras fáceis.

Alice: Não quero mentir e não posso contar a verdade, então está tudo acabado.
Dan: Não importa. Eu te amo. Nada disso importa.
Alice: Tarde demais. Eu não te amo mais, adeus.


"Ela tem a beleza imbecil da juventude, mas é esperta" (Larry).
"O que há de tão legal na verdade? Tente mentir pra variar" (Dan).
"Agora some daqui e morra"



OBS: Só consegui anotar algumas frases enquanto assistia ao filme. Então, para deixar mais completo os diálogos aqui, tive a ajudinha deste site: 12º dimensão. Não custa nada creditar, não é?!

lundi 28 juillet 2008

Memória (aleatoriamente) seletiva

“Bicho” estranho, este, chamado memória, não? Para alguns, age como um computador armazenando dados que serão, em poucos segundos, recuperados, ao menor sinal de necessidade. Outros, menos abastados, podem ficar horas tentando lembrar um fato, uma história ou o simples nome da pessoa a sua frente e... Nada. Niente. Absolument rien!
Existem, ainda, aqueles casos de memória (aleatoriamente) seletiva. Que, aqui, solamente acá, em nada dependem da vontade do proprietário da massa encefálica. A alcunha se deriva do processo de armazenamento de coisas inúteis. Sabe aquele tipo de informação que dificilmente você irá usar? Relatos de amigos, a letra da pior música a tocar na rádio, a última piração da sua mãe etc...
Então, essa é a minha. Nunca lembro o que deveria. Nomes são as últimas coisas que me vem à mente. Mas posso descrever com detalhes algumas cenas hilárias ou diálogos absurdos de meus amigos. Em particular aqueles que reservam detalhes picantes. Estranho, eu sei! E nem adianta me chamar de pervertida, está além de minhas forças.
Para me redimir, posso dizer que recordo muitos fatos de minha infância, também. Os trágicos em particular. Todavia, as bobagens imperam. Aliás, todo este prólogo é para falar sobre uma destas minhas memórias infantis.
Na época da escola, eu detestava ler em voz alta. Tinha uma dificuldade imensa de prestar atenção ao que lia (quando lia em voz alta), pois, ficava confabulando sobre o que os outros estavam falando. Abominava aquela (maldita) estratégia de cada aluno ler um parágrafo ou trecho do artigo a ser estudado. Aquilo me desconcentrava ainda mais. Afinal, temendo cometer algum erro (craxo?), começava a calcular qual à parte do texto cairia para mim. Então, lia e relia até aquela tortura passar ao próximo desesperado que deveria estar fazendo o mesmo, e deixando a compreensão da redação para segunda ordem.
Assim, quando a professora da quinta série (em meados de 1994) resolveu que toda a turma deveria ler, na integra, em voz alta, um texto repleto de “pês” e “erres”, eu surtei! Minha sorte foi que a tarefa seria realizada na aula seguinte. Ou seja, eu tinha um dia inteiro para conseguir pronunciar tudo aquilo.
Lógico que fui para casa e não larguei mais o papel mimeografado (sim, não existia xerox, naquele tempo, ao menos, não, em minha escola). Pois, li tanto que acabei decorando. Sim, a intenção era apenas conseguir pronunciar tudo sem errar, mas, acabei decorando. Seria capaz de recitá-lo se preciso fosse.
Gostaria de dizer que cheguei tranqüila, na aula, naquele dia. Contudo, minha insegurança não me permitiu tamanho alivio. Para piorar, a professora esqueceu totalmente o que tinha pedido e, no fim, ninguém leu nada. Passei o período todo apreensiva, à toa, e nunca mais esqueci o maldito texto. Vivo declamando ele por aí, sempre que algo me faz lembrá-lo.
A última vez foi em uma aula de Espanhol sobre
trava-línguas. Sabe? Aquelas frases com letras repetidas que você deve ler o mais rápido possível sem errar? Essas mesmas, do tipo: “O que é que o Kiko quer? O Kiko quer caquí. Que caquí que o kiko quer? O kiko quer qualquer caquí” etc. Foi assim que resolvi pesquisar, na Internet, a autoria desta composição que me acompanha há 14 anos e que agora compartilho com meus supostos 4 leitores. Ao que tudo indica, a poesia é do recifense Manuel Bandeira. Espero que gostem, mas não decorrem.

Procissão de pelúcia

Aonde é que vai o praça,
que passa, de peliça,
com pressa
na praça?
Ia por uma compressa,
depressa,
ao rei da Prússia.
Mas o praça não sabe o preço
para ir da praça
à Prússia .

E não há Prússia
Nem praça
Nem peliça
Nem compressa

Nem praça
Nem preço
Nem pressa...

Há uma procissão
que passa na praça
Só com preces de pelúcia...



Ilustração: Daily Candy

lundi 21 juillet 2008

O cavaleiro das trevas

Os vilões são sempre mais atraentes, mesmo quando carecem de pitadas extras de sex appeal. Carregam em si uma mística envolvente e humor apurado por sua sagacidade perigosa. Não há como resistir às tramas criadas por essas criaturas. Eles nos cativam com seu conhecimento das cores do mundo e pela capacidade de se camuflar diante de cada nuance.
Os mocinhos, em geral, são sofredores enfadonhos. Sacrificam suas vidas pelo bem da humanidade e levam um certo estigma de Pollyanna. No entanto, devido a panóplia de bem-feitor e já que saem vitoriosos da milenar batalha entre o bem e o mal tende-se a admirá-los. Quase ninguém admitiria querer estar no lado negro da força. D'accord?
Porém, na vida real, branco e preto não são assim tão homogêneos, nem seguem estereótipos. Bandidos também vencem no final e os heróis têm falhas éticas. A sétima arte, contudo, procurava deixar as diferenças bem demarcadas. Veja bem, procurava. O uso do verbo no passado demonstra que há um resquício de mudança no ar.
Uma modificação bastante visível em Batman: the dark Knight. Se não pelas cisões morais e traços mais humanos explorados pelo diretor Christopher Nolan ou pela atuação de Christian Bale (que para mim será sempre associado ao psicopata americano), pela trajetória do promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart) que, aliás, proclama uma das sentenças mais premonitórias e verdadeiras do cinema: "Você morre como um herói ou vive o bastante para se ver transformar em vilão". Bela crítica a corruptibilidade social, isn’t it? Mas, ela não acaba aqui, o complemento chega através da constatação do tenente Gordon (Gary Oldman): “tentamos ser homens decentes em um mundo indecente”. Dizer que jamais pensamos desse modo seria mentira. No fim, se todos os nossos esforços serão nulos, não vale muito a pena lutar contra a lógica do jogo. Às vezes, é preciso se adaptar a regra, por mais que incoerente que pareça.
Conformista demais? Talvez! Todavia, Nolan acredita na salvação da humanidade. E, claro, demonstra isso com boas doses de tensão, deixando o espectador preso a poltrona. Olhos fixos na tela, na tentativa de piscar o menos possível, para não perder nenhum momento da atuação perturbadoramente verossímil de Heath Ledger, o melhor coringa do cinema. Desculpe Jack Nicholson, mas você não foi assim tão assustador.

mercredi 16 juillet 2008

Textos perdidos

Escrevi o texto abaixo no dia 07/07/08 (é, quase uma data cabalística [haha]) e sei lá porque não o publiquei (de repente para não deixar isso com cara de diariozinho? Ah, azar!). Agora, fuçando em meus arquivos, voilà, encontrei ele. Então, resolvi tirá-lo do ostracismo e criar uma "categoria" para estas escrivinhações perdidas. Afinal, este blog precisa ser atualizado e as anotações estavam lá, dando sopa, loucas para virarem post. Nada mais justo do que realizar o desejo das coitadinhas, d'accord? Boa leitura...

SUPORTE TÉCNICO?! EU QUERO ACORDAR!

Eu sei, isso está virando "apropriação indébita". Vanilla sky nem é meu filme favorito (esse título é da
Lu) e, ainda assim, vivo citando trechos dele por aqui. Fazer o quê? Ele passou na TV ULBRA ontem (06/07) e foi impossível fugir, apesar da dublagem estranhíssima. Nada atraia minha atenção em outros canais. Domingo é mesmo um saco, até para os NETs (blergh!).
Confesso que, pela primeira vez, chorei com (/por?) ele. Nada comparado à minha ‘atuação’ em O sexto sentido, quando só fechei o berreiro 10 minutos depois de chegar em casa, do cinema. Não é à toa que, este sim, é um dos meus best movies. Pois é, eu classifico películas pela quantidade de lágrimas, por mim, derramadas, entre outras coisas! Estranho, não?! Isso é só o começo, meu benhê!
O fato é que, aquelas frases todas mexeram comigo. Em particular as do momento final da trama: “cada minuto é uma nova chance para mudar tudo”. Será? É tão difícil mudar. Por mais que tente, às vezes, parece inexeqüível.
Você faz tudo certo, pensa (demais?), se preocupa e nada acontece. Aí desiste, relaxa, mas o destino é inexorável e continua dando tudo errado. As pessoas passam te fazendo cobranças, ao mesmo tempo dizem para ter calma porque quando for A HORA CERTA, tudo vai acontecer. Peraí, eu escuto isso desde que me entendo por gente e essa hora nunca chegou. E não é por falta de perseguição não, vivo tentando achá-la. Então, por favor, suporte técnico, meu sonho lúcido virou um inferno, me acorda de uma vez e deixa eu tentar viver de verdade?

Ilustração: Moidsch

samedi 5 juillet 2008

(Belas e imortais) PIN-UP's

Quando surgiram, no final do século XIX, na França, sua denominação e formas ainda não eram as que hoje conhecemos. Inspirados pela Art Nouveau, em voga naquele momento, Alphonse Mucha e Jules Cheret criam um estilo que influenciou diversos ilustradores e personificou o ideal masculino de mulher.
"As primeiras imagens femininas em poses sensuais tornaram-se propagandas pujantes nos cartazes de uma época em que os teatros de revistas transformavam dançarinas e atrizes em estrelas". Na América, a revista
Life se encarregou de reproduzir o fenômeno, trazendo em suas páginas, em 1887, a chamada Gibson Girl. Um belo exemplar dos dandies, tão coberta e comportada que é difícil associá-la ao protótipo de Pin-up que habita nosso imaginário. "Mas capaz de seduzir os rapazes com seu charme e as moças com suas roupas na moda. Tanto que, em 1903, Charles Dana Gibson era o ilustrador mais bem pago do país".

Além de reconhecimento, o novo século iniciou com produções mais ousadas. Os desenhos de Raphael Kirchner merecem destaque por apresentar, na década de 1920, a vida parisiense através de mulheres sedutoras, com pouca ou nenhuma roupa – por vezes preservando apenas o púbis – e em situações que sugeriam lesbianismo. "Apesar da censura, os traços elegantes do movimento Art Nouveau acabaram por tornar aceitáveis as figuras desnudas, que passaram a estampar de filtros de cigarros a caixas de bombons".
Foi a partir dos anos 1930, no entanto, com o aparecimento de novos desenhistas, como o americano
George Petty e o peruano Alberto Vargas, que o gênero se popularizou de fato. Uma nova estética foi criada, inaugurando o período dourado das, então alcunhadas, Cheesecake. Especula-se que o termo, documentado neste sentido em 1934, seja derivado da expressão better than cheesecake (literalmente: melhor do que bolo de queijo) usada na gíria do começo do século.
Fosse qual fosse a designação, o sucesso destas figuras era incontestável. Tanto que a revista americana Esquire exibira, desde o seu primeiro número, nos intervalos das suas páginas de política e literatura, uma Petty Girl (...) estabelecendo, em 1939, o primeiro ‘caderno central de três páginas’, que deveria ser desdobrado e destacado”.
No ano seguinte, a publicação do primeiro calendário da Varga Girl vira best-seller e as belas garotas, com cinturas quase irreais e pernas desproporcionais, ganham o título de Pin-up’s, referindo-se ao ato de pendurá-las (do inglês: to pin up) em paredes, armários e toda a sorte de locais possíveis. Conquistam também o respeito de revistas como
Time, Cosmopolitan e Look, que vêem nessa estética a possibilidade de trazer mais cor e graça as suas páginas, encomendando esboços das estrelas de cinema.

Ingênuas ou fatais, desastradas ou habilidosas, elas eram idolatradas pelos soldados americanos que serviam as Forças Armadas durante a Segunda Guerra Mundial. Estampadas até sobre a fuselagem de aviões, tornaram-se uma espécie de alívio para aqueles que arriscavam a vida nos campos de batalha, sendo, assim, carinhosamente chamadas de “arma secreta”.
Aliás, o entre-guerras acabou sendo, de certa forma, o verdadeiro genitor deste tipo de artista gráfico. Nesta época os desenhos de
Gil Elvgren ganhavam as ruas em cartazes de propagandas de coca-cola, entre outros produtos, imputando a ele o estigma de “chefe da escola maionese” e artista comercial. Não se pode negar, porém, a preocupação de Elvgren em identificar as mudanças sutis ocorridas no American Way of Life.

As modificações foram gradativas, mas perceptíveis aos olhos atentos. Após a “ajuda” dada aos pracinhas, ao “alistarem-se” como enfermeiras ou trajando uniformes da marinha, as garotas do calendário “elevaram-se de símbolo sexual libertino à ‘deusas guerreiras’ e acaba personificando a mulher americana - segura de si e audaciosa”. Tais como as Elvgren’s girls: bonitas e independentes, elas se preocupam com a beleza sem deixar suas outras atividades prejudicadas por isso. Já não dependem dos homens, são elas que colocam água no filtro, assam o churrasco do domingo, votam e até trocam pneus. Diferente das jovens concebidas por Art Frahm que, inocentes, perdem suas calcinhas a qualquer momento.

Zoë Mozert é outro nome clássico do estilo. Ela e Joyce Ballantyne eram os exemplares femininos, dentre a profusão de testosterona, dos traços que enlouqueciam os homens. No Brasil, o representante da classe foi o gaúcho José Luiz Benício da Fonseca. Benício, como é conhecido, foi o responsável pela ilustração de mais de 300 cartazes para o cinema nacional, incluindo as famosas pornochanchadas dos anos 1960. Além de produzir as capas de livros do escritor espanhol Lou Carrigan, que relatavam as histórias da bela Espiã Número Um da CIA, Brigitte Montfort. Assim criou, também, Giselle, para o livro do jornalista David Nassar: A Espiã Que Abalou Paris a qual, não por acaso, era a mãe de Brigitte.

Voltando a América do final dos anos 1940, é possível notar o fenômeno de humanização daquelas moças de papel que, agora, ganham vida ao serem encarnadas por atrizes como Betty Grable (a preferida dos pracinhas) e Marilyn Monroe ou fotografadas como a voluptuosas Bettie Page. Contudo, a glória e liberdade destas modelos estavam com dias contados. Os conservadores anos 1950 iniciaram e impuseram, as pin-up’s fotografadas, papéis mais tradicionais, como o da inocente virgem eterna, relegando, à elas, espaço apenas nas revistas masculinas.

Para piorar, o advento da Playboy, em 1953, acaba tornando ainda mais curta esta trajetória, por desconstruir a imagem quimérica existente até então.

“Por trás das suas reivindicações de liberação sexual, a revista faz da pin-up uma boneca sem personalidade. As poses são previsíveis, as fotos retocadas - as modelos são fotografadas no frio, para que as suas mamas fiquem arrebitadas. A pin-up da geração Playboy ou Pirelli - o calendário da marca de pneus nasce em 1964 - afastou-se do grande público”.


Contudo, a morte desta estética não estava anunciada. Afinal, décadas depois, ainda é possível apreciar criações interessantes, mesmo com estilo mais contemporâneo, um tanto agressivo, como as produzidas pelos desenhistas Jennifer Janesko, Hajime Sorayama e Olivia De Berardinis. Ou ainda, o resgate feito pela revista Vanity Fair, em 2006, em um ensaio com as principais promessas femininas do cinema. Todas em trajes e poses que lembram a época de ouro das cheesecake.



Sem contar com a reencarnação dos espetáculos burlescos (uma corrente que vê as garotas combinarem, no palco, o cabaré com o strip-tease kitsch) de New York, que tem em Dita Von Teese seu mais famoso exemplar. Além, é claro, das diversas anônimas que se travestem para uma viagem ao passado e dos muitos admiradores que se contentam apenas em colecioná-las.


Tudo leva a crer que esta estética ainda perdurará por muito tempo, ainda que sua trajetória lembre, por vezes, uma montanha russa.

FONTES:
Fashion Bubble
Imagens e letras: diversão cultural
Obvius: um olhar mais demorado
Bolsa de Mulher

Dica: Cheesecake and the Art of pin-up