lundi 7 avril 2008

Relatos de uma guerra POP


Criticar os clássicos ou obras tidas como indispensáveis, embora possa parecer, não é um prazer para mim. Ao contrário, faz-me pensar, às vezes, que talvez o problema se dê pela minha falta de requinte intelectual.
Será que sou incapaz de apreciar a verdadeira essência literária? Ou são os eruditos quem exageram na valorização de alguns exemplares? Talvez, ainda, a culpa possa ser divida com o tempo, que seria o real responsável por esta (nossa) incompatibilidade?! Não sei ao certo (gosto não se discute?). Mas... basta um livro ser classificado com adjetivos exultantes para que eu não consiga encontrar nele o mesmo júbilo de outros leitores.
Foi o que ocorreu com Despachos do Front de Michael Herr, considerado o mais brilhante tratamento literário sobre o Vietnã. O volume fez tanto sucesso que o cineasta americano Francis Ford Coppola convidou o autor a colaborar com ele na produção de Apocalypse Now – película de 1979 que mudou o gênero de filmes de guerra e se fixou no imaginário pop. Aliás, o livro é impregnado de referências musicais e fílmicas típicos desta cultura (pop). Advêm daí o apresso, também, dos (mais) modernos.
No entanto, para mim, a coisa toda acabou tendo um efeito colateral: a supressão do ritmo de leitura. O que de forma alguma significa o desprezo, de minha parte, pela obra. Reconheço em absoluto o seu valor. À propósito, há passagens interessantíssimas sobre a vida dos correspondentes (assunto que tenho particular interesse) e fatos curiosos, como a presença de estudantes universitários, em férias, que colaboravam com seu jornal do campus (págs. 217-218).

* Somente no auge da Ofensiva do Tet havia entre seiscentos e setecentos correspondentes credenciados pelo Comando de Assistência Militar em Saigon. (...) Não havia nação pobre demais, jornal de cidade do interior tão humilde que não pudesse mandar alguém para dar uma olhada pelos menos uma vez. Estes coleguinhas, como chama Herr, por vezes escreviam suas matérias baseadas apenas em releases e no que as autoridades mandavam eles escreverem.

* Éramos chamados de viciados em perigo, abutres, lambe-feridas, fanáticos por guerra, adoradores de heróis, veados enrustidos, drogados, alcoólatras, vampiros comunistas, traidores, mais xingamentos do que consigo lembrar. Muitas pessoas nas Forças Armadas jamais perdoaram o general Westmoreland por não ter nos imposto restrições quando teve a oportunidade nos primeiros dias de guerra. Alguns oficiais e muitos soldados aparentemente ingênuos acreditavam que, se não fosse por nós, não haveria mais guerra, e nunca fui capaz de discutir com nenhum deles a respeito (págs. 224-225).

Apesar dos muitos detalhes instigantes, fui incapaz de me entusiasmar e acabei estendendo a leitura por um mês. As primeiras 70 páginas até fluíram bem, mesmo com tantas gírias dos anos 1960 e de toda a linguagem militar. Porém, dali em diante, o ritmo fôra oscilando. O que me leva a questionar o esplendor da obra. Ainda assim, não a desaconselho de um todo. Afinal, ler sempre vale a pena, principalmente quando os relatos revelam fatos reais da nossa história (do mundo). Então... mãos ao livro!

Ilustração: Moidsch

2 commentaires:

Lidiana de Moraes a dit…

Maninha!
Sinceramente, entendo teu ponto de vista... apesar que essa deficiência em concordar com os outros me ocorre mais em termos cinematográficos do que com livros!
Acho que é por isso que eu nunca vi 2001 uma Odisséia no espaço por exemplo... é mais fácil fazer cara de blasé quando alguém baba o filme, do que aquela cara de, ohhh coisa horrível! Porque se nao sempre começa aquela mega discussão de: como tu pode não gostar? É UM CLÁSSICO!!!

Julio Moraes a dit…

Adorei o novo layout Ing... parabens


beijossss