lundi 11 février 2008

As histórias de minha vida.


Há muito tempo atrás, quando ainda era estudante do ensino médio, uma de minhas professoras levou para sala de aula a crônica: Leituras fundadoras (publicada no jornal Zero Hora de 7/11/99). Nela, Martha Medeiros fazia um resgate sobre a iniciação da literatura em sua infância e adolescência. Estas chamadas leituras fundadoras – expressão cunhada pelo escritor francês Christian Bobin – são, na verdade, os primeiros livros que marcaram consideravelmente a vida de cada um de nós. Sempre senti vontade de fazer a minha própria lista, mas nunca coloquei nada no papel. Contudo, nestas férias, tive uma surpresa maravilhosa ao relembrar, com uma amiga, a estória de uma garotinha que perdeu a mãe durante uma viagem para São Paulo. Indefesa, na Paulicéia Desvairada, tendo apenas seu tigrinho de pelúcia ao lado, ela precisava encontrar o tio e fugir de uma pseudo-assistente social. Fôra assim, na companhia de Pimpa, a menina criada por Marcos Rey em Sozinha no mundo, que preenchi algumas folhas de minha ficha na biblioteca da escola. Passada essa obsessão, me entreguei à narrativa de Josué Guimarães e, por vezes, sofri tanto quanto Mariana pelo jeito fugidio de Cássio em É tarde para saber. Obra que, por sinal, reli em janeiro. Foi engraçado perceber que minha implicância com Cássio não mudou muito, já a complacência com a ingenuidade de Mariana não pode ser considerada a mesma. Na adolescência (mais precisamente aos 15) fiz meu début com a literatura estrangeiras e conheci meu amado-mor, Gabriel García Márquez, em sua melhor forma: através de O amor nos tempos do cólera (lançado este ano nos cinemas). Impossível não se comover com a paixão de Florentino Ariza por Fermina Daza e sua capacidade de esperá-la por 51 anos, nove meses e quatro dias. O livro me foi emprestado por uma amiga da minha irmã, com ótimas recomendações. Aliás, devo a ela (Vanessa) meu eterno agradecimento. Pois, a partir de então, passei a colecionar (e ler, lógico) muitas outras escrevinhações do sr. Gabo. Anos mais tarde, após a descoberta de que livros eram objetos acessíveis, mesmo para proletárias como eu, deixe-me levar por títulos intrigantes como A metamorfose, de Franz Kafka e 1984, de George Orwell, sem saber ao certo ao que me levariam tais leituras. Desta forma, intriguei-me com a sorte do caixeiro-viajante Gregor Samsa, que em uma manhã acorda não mais no mesmo corpo com o qual fôra dormir, mas transformado em um inseto monstruoso. Assim como, revoltei-me com o Grande Irmão e seu (partido) IngSoc. Porém, não posso negar o divertimento gerado pelas contradições do duplipensar (“Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força”) e da novílingua. Já no gênero jornalístico me encantei pela narrativa do grande mestre da reportagem, Gay Talese, e suas excepcionais histórias. Se Deus permitir, um dia irei escrever tão bem quanto ele e, principalmente, com o mesmo espírito e perseverança existentes em Fama e Anonimato e A mulher do próximo. Depois de tantas recordações, só posso dizer que apesar de não ter sido criada sob uma grande influência literária, creio que consegui formar uma base bastante sólida para todas as leituras seguintes que fiz e que ainda farei durante a minha vida. E você, como fez a sua?

Ilustração: Bebel Callage

P.S. Este texto também está publicado em: DIZem BUCHA

3 commentaires:

vane a dit…

binha!!!
por acaso vim ler teu blog e me encontrei nele!!! que lindo
e por incrivel que pareca, o amor nos tempos do colera ainda e meu livro preferido!!! depois de tanto tempo...
fico feliz de ter te apresentado o inigualavel Gabo... Ja li quase todos tambem...
beijinhos

Anonyme a dit…

Minha iniciação literária foi com "As aventuras de Tom Sawyer", em que me encantei com o garoto que aprontava muitas e tinha que suportar as punições de sua tia; com Polianna (menina e moça), em que aprendi o jogo do contente, que continuo tentando aplicar na minha vida adulta; e com tantos outros livros que eu fuçava em bibliotecas (raras e mal guarnecidas) na cidade onde moro.
Sei que sou uma mistura de tudo o que li e o que vivi.
Ass: Cinthia Bueno

Ingrid Guerra a dit…

Olá Cinthia, infelizmente não conheço os livros de Mark Twain, e também os de Eleanor Porter, apesar de ter alguma noção do jogo do contente. Espero uma hora conseguir pôr todas as minhas leituras dia, ainda que a lista seja gigantesca. Afinal, preciso continuar forjando meu caráter através delas, não é!?
Lastimo como você o estado das bibliotecas brasileiras. Acredito que se elas fossem melhor abastecidas, as crianças sentissem muito mais prazer em ler. Pois, encontrariam algo que realmente as interessassem. Mas... enquanto as mudanças não ocorrem, nós viramos com o que temos. Se você voltar por aqui, por favor, deixe anotado seu endereço para que eu possa retribuir as visita. ok? Obrigada pelo comentário. bIG abs.